sábado, 5 de maio de 2012

[RESENHA] Água Para Elefantes


Desde que perdeu sua esposa, Jacob Jankowski vive numa casa de repouso, cercado por senhoras simpáticas, enfermeiras solícitas e fantasmas do passado. Por 70 anos Jacob guardou um segredo. Ele nunca falou a ninguém sobre os anos de sua juventude em que trabalhou no circo. Até agora.

Aos 23 anos, Jacob era um estudante de veterinária. Mas sua sorte muda quando seus pais morrem num acidente de carro. Órfão, sem dinheiro e sem ter para onde ir, ele deixa a faculdade antes de prestar os exames finais e acaba pulando em um trem em movimento - o Esquadrão Voador do circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra.

Admitido para cuidar dos animais, Jacob sofrerá nas mãos do Tio Al, o empresário tirano do circo, e de August, o ora encantador, ora intratável chefe do setor dos animais.

É também sob as lonas dos Irmãos Benzini que Jacob vai se apaixonar duas vezes: primeiro por Marlena, a bela estrela do número dos cavalos e esposa de August, e depois por Rosie, a elefanta aparentemente estúpida que deveria ser a salvação do circo.

"Água para Elefantes" é tão envolvente que seus personagens continuam vivos muito depois de termos virado a última página. Sara Gruen nos transporta a um mundo misterioso e encantador, construído com tamanha riqueza de detalhes que é quase possível respirar sua atmosfera.

Alternando entre as memórias de Jacob Jankowski (maior parte do livro) e sua atual realidade em um asilo,  Sara Gruen, além de entreter o leitor em ambos momentos,  narra de forma brilhante a história em primeira pessoa, transmintindo de forma exímia os sentimentos do protagonista,  de forma que esses influenciem no decorrer da narrativa. Porém, a autora peca no início, deixando-o um tanto maçante, de forma mais enrolado, além de não realizar corretamente algumas transições do Jankowski idoso para o circense.


Realmente, a ideia da alternância entre momentos de lembranças de Jacob no circo e momentos de relatos do cotidiano dele no asilo, foi excelente. No primeiro se concentra as partes mais importantes da história, onde o veterinário e orfão narra suas "aventuras" pelo mundo circense. No segundo percebe-se um "ar" de indignação dele com a situação de impotência e da saudades dos "Irmãos Benzini", e também um "ar" de irreverência, pois os sentimentos ranzinzos do protagonista causam situações que levam o leitor à algumas risadas. Bem bolado. Entretanto, o mais interessante é como Sara Gruen transmite magnificamente tais sentimentos ao longo do livro, demonstrando as angústias de Jacob e as aplicando sobre o desenrolar dos fatos, de forma que lê-se com os olhos de tal. Assim, a imparcialidade do personagem é impecável.

Outro fator de acerto foi nos personagens. Em muitos livros estes são clichês e com fraca personalidade. "Água para Elefantes" não. O livro gira em torno basicamente de um triângulo : Jacob Jankowski, Marlena, August, e Rosie no meio. O primeiro não é como os "mocinhos" que não cometem erros, e são espécies de "santos". Ele demonstra não só amor, gentileza, bondade e compaixão, mas constantemente rancor, mágoas, e ódio. Isto torna-o interessante, pois não fica só naquela boa índole que transmite para sua amada Marlena, e sua adorada  elefante Rosie, mas também os sentimentos egoístas, na maioria das vezes direcionado para o tirano August, chefe do setor de animais. A segunda é como qualquer mulher apaixonante de um romance, linda, meiga, e charmosa, com um diferencial: apresenta uma característica esférica, ou seja,  muda parte do seu comportamento no decorrer do livro. Inicialmente, Marlena era oprimida pelo chefe do setor animal, porém ao se apaixonar por Jacob, esta deixa de aceitar as imposições do marido. Já o terceiro é com certeza o mais fascinante dos três, pois assume uma forma bipolar, nunca se sabendo sua reação à algum fato ou ato que aconteça durante o livro. Hora gentil e bondoso, hora o intratável diretor da área dos animais, descontando toda sua raiva em sua esposa, Marlena, e em Jankowski, o veterinário do circo. Só citando, Tio Al é apenas um coadjuvante nesta "trama", ficando na sombra desse triângulo.

Entretanto, "Água para Elefantes" tem suas falhas. O começo do livro chega a ser maçante, pois demora em demasia para se desenrolar e desenvolver a ligação de acontecimentos , fazendo com que os leitores menos pacientes optem pela desistência. Empolgando com o pulo do protagonista do trem dos Benzini, Gruen , após este momento de êxtase, deixa a narrativa fica lenta e só acelera a partir do capítulo seis/sete, quando começa a ficar realmente interessante. Outro ponto negativo são as transições do Jacob circense para o Jacob idoso. Muitas vezes a autora não as realiza muito bem, "quebrando" a história em momentos importantes, de tensão, dando uma sensação de feito às pressas. Mais especificamente, quebra o ritmo. Os impacientes facilmente se irritariam com tais transições.

A alternância passado/presente, a perfeita narração em primeira pessoa e a construção dos personagens, são com certeza os ápices da obra. Todavia, a quebra do ritmo em certos pontos, e o excesso de cadência nas primeiras páginas tiram o adjetivo "impecável" do livro. Logo, é recomendável paciência em algum momentos para quem deseja lê-lo. Quem tiver, provalvelmente não se arrependerá e verá que as qualidades se sobrepõem (bastante mesmo) sobre as falhas. Se apaixonará por Marlena e Rosie, terá raiva de August e torcerá por Jacob. Enfim, com seus erros, "Água para Elefantes" consegue entreter o leitor em quase todos momentos, se diferenciando da gama de clichês que se encontram nas prateleiras das livrarias.

5 comentários:

  1. Quero ler o livro, mas até agora nada me convenceu... Sua resenha foi interessante, mas senti falta de uma descrição da história alem da própria sinopse...

    Abraços, Joshua - pensamentosdojoshua.blogspot.com

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Leia sim, o livro é muito bom. Depois do início que é um pouco enrolado, vai ficando mais e mais interessante. Não é um mero romance. Ah, obrigado pela crítica, tentarei melhorar nesse ponto numa próxima! :D Porém me centrei mais em dar minhas críticas, pois acho que a descrição vai por conta da sinopse! :D
    Abraços,
    João Vitor,
    Blog Epílogo.

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  4. Gostei da resenha, bem escrita!

    Como eu já li o livro, achei a sua resenha bem completa, então até me faltam palavras para adicionar algum comentário extra. Só o que posso dizer é que eu adorei a forma como Sara Gruen narra e constrói alguns personagens, como o August, por exemplo. O prólogo foi bem legal também, fica aquele suspense no ar e você cheio de teorias sobre "Quem matou o fulano?". Minha única teoria sobre isso acabou sendo o oposto da realidade, fiquei muito surpresa no final, rs.

    Bjins

    www.dicasoutravessuras.blogspot.com

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  5. Muito obrigado pelo elogio :D Pois é! A Sara Gruen narrou muito bem, ainda mais que em primeira pessoa é bem mais difícil do que em terceira, e ela o fez muito bem. Sim, o prólogo dá mais um incentivo pra quem quer ler, ajudando a manter o leitor entretido mesmo no início, quando a leitura é mais maçante! Bem bolado.
    Em breve postarei a resenha do Trono de Fogo ! Se quiser leia também a resenha do "Querido John" :)
    Irei visitar teu blog :D

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